sábado, 17 de outubro de 2009

Gucci José

Essa história foi publicada na revista Seleções de setembro de 2008, inaugurando a coluna Pet Love.
Na manhã chuvosa de 17 de abril de 2004, fui à biblioteca da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, para fazer uma pesquisa sobre saúde pública. No pátio da instituição há sempre muitos gatos, mas, nesse dia, um me chamou a atenção. Ele era tigrado de cinza, e estava encolhido, todo molhado, com o focinho no chão. Achei estranho, afinal não é muito comum ver um gato imóvel na chuva.Percebendo que ele não estava bem, coloquei-o embaixo do meu carro para protegê-lo da chuva, mas como tinha de fazer minha pesquisa, não pude ajudá-lo naquele momento.
Pensei que se quando eu saísse ele ainda estivesse por ali,iria levá-lo comigo. Acabei não conseguindo me concentrar nos estudos, pois só podia pensar naquele gatinho completamente molhado, e que ele estava sofrendo.
Saí da biblioteca quase correndo, e, ao olhar embaixo do carro, vi que o gatinho estava na mesma posição em que eu o havia deixado. Preocupada, enrolei-o numa manta que eu tinha no porta-malas e fui direto ao veterinário. Sabia que algo de muito errado estava acontecendo, pois o bichinho não esboçou sequer um movimento quando o peguei. Não poderia levá-lo para casa porque ele poderia ser portador de alguma doença transmissível, e poderia contaminar a Libra Maria.
Após alguns exames, o veterinário disse que ele estava com rinotraqueí­te e, provavelmente, com pneumonia. Sai com ele para uma clínica radiológica e foi confirmado o diagnóstico: ele, com cerca de 5 meses, estava muito doente, e talvez não sobrevivesse.
Eu decidi então que, como fiz com a Libra, faria qualquer coisa para salvá-lo. Seguindo as instruções do veterinário, mantive-o separado da Libra e o submeti a nebulização com antibiótico e Fluimucil. Coloquei-o em uma casinha usada para transportar animais, a cobri com plástico e fixei a máscara em uma das janelinhas. Minha casa passou a ser um centro de recuperação.
O tratamento todo durou cerca de três meses. Ele sempre foi muito bonzinho. Eu colocava o remédio em sua boca, massageava a garganta e ele engolia. Nunca deu trabalho, não reclamava nem tentava fugir de mim. Foram dias longos e difíceis para minha filha, meu marido e eu. Nessa época, nada chamava sua atenção, nem mesmo os muitos fussssssssssss que a Libra fazia ao passar pelo quarto onde ele estava.
Por sugestão da minha filha Roberta, demos a ele o nome de Gucci José, pois a Libra tem um nome composto. Ele e a Libra foram, durante muito tempo, inseparáveis. A saúde dele, hoje, ainda é muito frágil: quando o tempo esfria, ele fica logo resfriado, e muitas vezes ainda recorro à nebulização. Gucci hoje é um adulto, mas ainda gosta muito de brincar, e é o gato mais delicado e amoroso que já tive a oportunidade de conhecer; é incapaz de um gesto brusco e posso mesmo dizer que é “o babá” da casa, pois adota de primeira qualquer gato novo que por aqui passe. É também meu massagista profissional, pois quando sento no sofá ou me deito vem logo “amassar pão” em minha barriga. Além de tudo isso ainda “conversa” comigo! Quando eu digo “oi, amor”, ele responde miando de um jeito único. Ele me acompanha aonde quer que eu vá, e é o gato mais companheiro que eu já tive!

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